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🎗️ Setembro Amarelo: Conversar Pode Mudar Vidas

  • Foto do escritor: Dra Leticia Pires
    Dra Leticia Pires
  • 22 de set.
  • 8 min de leitura

Olá a todos! Aqui é a Dra. Letícia Pires, e é com um profundo senso de responsabilidade e esperança que venho hoje falar sobre o Setembro Amarelo. Este mês é dedicado à prevenção do suicídio, um tema delicado, mas urgentíssimo, que nos convida a quebrar o silêncio e a estender a mão. Em 2025, nosso lema é claro e poderoso: "Conversar Pode Mudar Vidas".

Não se trata apenas de uma campanha, mas de um convite à ação, à empatia e, acima de tudo, ao diálogo. Acreditamos firmemente que a palavra tem o poder de desarmar a dor, de conectar pessoas e de ser o primeiro passo em direção à cura e à esperança.


A Importância Crucial do Diálogo e do Acolhimento 🤝


A prevenção do suicídio começa, muitas vezes, com uma conversa. O medo do julgamento, a vergonha ou a sensação de ser um fardo levam muitas pessoas a silenciar sua dor, isolando-se em um ciclo de sofrimento. Quando abrimos um espaço seguro, livre de julgamentos e preconceitos, permitimos que essas vozes sejam ouvidas, que as emoções sejam validadas e que a pessoa se sinta vista e compreendida. A escuta ativa e empática é uma ferramenta poderosa que desarma o desespero.

Imagine o caso de João, um jovem de 25 anos que enfrentava uma pressão enorme no trabalho e sentia-se um fracasso em todas as áreas da vida. Ele hesitava em falar com qualquer pessoa, temendo ser visto como fraco ou incapaz de lidar com seus próprios problemas. Um dia, um colega de trabalho, atento às mudanças de comportamento de João, percebeu sua reclusão e, em vez de questionar ou dar conselhos não solicitados, simplesmente ofereceu um café e um ouvido atento. "Percebi que você parece um pouco sobrecarregado ultimamente, João. Está tudo bem? Se precisar conversar, estou aqui para escutar, sem julgamentos", disse o colega. Essa simples frase, carregada de acolhimento e respeito, foi o gatilho para João começar a desabafar sobre suas angústias e, posteriormente, buscar ajuda profissional. O diálogo genuíno cria essa ponte essencial entre o isolamento e o apoio.


As Complexas Causas e as Devastadoras Consequências do Suicídio 💔


O suicídio é um fenômeno multifacetado, raramente causado por um único fator. Ele geralmente surge da interação complexa de diversos elementos:


Fatores psicológicos: Transtornos mentais como depressão maior, transtornos de ansiedade (incluindo Transtorno do Pânico e Transtorno de Ansiedade Generalizada), transtorno bipolar, esquizofrenia, transtornos de personalidade (especialmente o Transtorno de Personalidade Borderline), uso e abuso de substâncias (álcool e drogas), histórico de traumas (como abuso físico, emocional ou sexual), e doenças crônicas que causam dor ou limitação. A presença de desesperança e a sensação de ser um fardo são marcadores importantes.


Fatores sociais: Isolamento social, bullying (presencial e cyberbullying), discriminação (por raça, gênero, orientação sexual, etc.), perda de entes queridos (luto), término de relacionamentos significativos, violência doméstica, e a ausência de uma rede de apoio familiar ou comunitária sólida. A falta de pertencimento e a solidão são sentimentos que podem agravar o quadro.


Fatores econômicos: Desemprego prolongado, dificuldades financeiras severas, endividamento, falência de negócios, e a percepção de falta de perspectivas futuras.


Fatores biológicos: Predisposição genética e desequilíbrios neuroquímicos no cérebro, que podem influenciar a vulnerabilidade de um indivíduo a transtornos mentais e, consequentemente, ao risco de suicídio.


As consequências do suicídio são devastadoras e se estendem muito além do indivíduo que tira a própria vida. Famílias e amigos são dilacerados por um luto complexo e doloroso, muitas vezes acompanhado de culpa, raiva, confusão e um estigma social que dificulta o processo de elaboração da perda. Comunidades e ambientes de trabalho perdem membros valiosos, e a dor se propaga, afetando a saúde mental coletiva, a produtividade e o bem-estar geral. É uma ferida que impacta gerações.



Saúde Mental: Da Juventude ao Ambiente de Trabalho 👦👩‍💼



Na juventude, os desafios são intensos e multifacetados. A pressão acadêmica avassaladora, o bullying (online e offline), a busca por identidade e aceitação social, as comparações incessantes nas redes sociais (que muitas vezes apresentam vidas idealizadas e inatingíveis), e a dificuldade em lidar com frustrações e falhas podem levar jovens a um estado de desamparo e desespero. É fundamental que pais, educadores e a sociedade em geral estejam atentos e ofereçam suporte contínuo, validando seus sentimentos, ensinando habilidades de enfrentamento e incentivando a busca por ajuda profissional sem estigma. Escolas, por exemplo, devem ter programas de saúde mental e profissionais capacitados para identificar e intervir precocemente.



No ambiente de trabalho, a realidade não é menos desafiadora. Cobrança excessiva por resultados, ambientes tóxicos com assédio moral ou sexual, sobrecarga de tarefas, falta de reconhecimento, desequilíbrio entre vida profissional e pessoal (com a cultura do "sempre conectado"), e a insegurança no emprego são estressores significativos que podem esgotar a saúde mental dos funcionários. Isso pode levar ao Burnout (síndrome de esgotamento profissional) e, em casos extremos, a pensamentos suicidas. A cultura do "presenteísmo" (estar presente fisicamente, mas sem engajamento mental) e a falta de autonomia também contribuem para o sofrimento psíquico.


Sinais de Alerta: Como Reconhecer e Agir 🚩


Estar atento aos sinais pode fazer toda a diferença. Eles podem ser sutis, mas indicam que alguém está em sofrimento profundo. É crucial observar mudanças significativas e persistentes no comportamento e no humor da pessoa. Fique atento a:



Mudanças drásticas de comportamento: Isolamento social repentino, reclusão de amigos e familiares, irritabilidade incomum, agressividade, ou apatia e desinteresse generalizado.


Expressão de desesperança ou falta de propósito: Falar sobre não ter futuro, sentir-se um fardo para os outros ("seria melhor se eu não existisse"), ou que “tudo seria melhor sem mim”. Podem expressar sentimentos de vazio, desamparo ou aprisionamento.


Alterações no sono e apetite: Insônia severa e persistente, dormir em excesso (hipersonia), perda ou ganho significativo de peso em um curto período.


Descuido com a aparência e higiene pessoal: Perda de interesse em se cuidar, o que antes era rotina.


Perda de interesse: Em hobbies, trabalho, escola ou atividades que antes davam prazer (anedonia).


Aumento do consumo de álcool ou drogas: Usar substâncias como forma de automedicação ou para entorpecer a dor emocional.


Disposição para se desfazer de bens importantes: Doar objetos de valor sentimental, fazer um testamento ou organizar assuntos pendentes de forma incomum.


Despedidas inesperadas: Mensagens ou atitudes de despedida para pessoas próximas, como se fosse a última vez.


Comentários sobre querer sumir, desaparecer ou morrer: Qualquer menção direta ou indireta à morte ou ao desejo de não viver deve ser levada a sério.


Comportamentos de risco: Engajar-se em atividades perigosas ou imprudentes sem pensar nas consequências.


Se você notar um ou mais desses sinais, especialmente se forem novos ou se intensificarem, não ignore. Aja com empatia, cautela e, acima de tudo, seriedade.



O Papel da Empresa e do Indivíduo na Prevenção 🏭👤


A prevenção do suicídio é uma responsabilidade compartilhada que exige ação em múltiplos níveis:


Empresas: Têm o papel crucial de criar ambientes de trabalho saudáveis e psicologicamente seguros. Isso inclui:


    • Promover a cultura de diálogo aberto: Incentivar conversas sobre saúde mental sem estigma.

    • Oferecer programas de bem-estar abrangentes: Que incluam acesso a suporte psicológico (como Employee Assistance Programs - EAPs), palestras sobre saúde mental, e atividades que promovam o equilíbrio.

    • Treinamento para gestores: Capacitar líderes para identificar sinais de sofrimento em suas equipes, saber como abordar o tema com sensibilidade e encaminhar para o suporte adequado.

    • Políticas claras contra assédio e discriminação: Garantir um ambiente de respeito e inclusão.

    • Flexibilidade e gestão de carga de trabalho: Promover um equilíbrio saudável entre vida profissional e pessoal, evitando a sobrecarga.

    • Comunicação transparente: Criar canais onde os colaboradores se sintam seguros para expressar suas preocupações. Uma empresa que se preocupa genuinamente com a saúde mental de seus colaboradores não só salva vidas, mas também colhe frutos em produtividade, engajamento, retenção de talentos e um clima organizacional positivo.



    Indivíduos: Cada um de nós pode ser um agente de transformação. Preste atenção aos seus amigos, familiares e colegas.,


    • Um simples "Como você está? De verdade?" pode abrir portas para uma conversa significativa.

    • Pratique a escuta ativa: Dê total atenção, ouça sem interromper, valide os sentimentos da pessoa ("Entendo que você se sinta assim", "Isso deve ser muito difícil") e mostre que ela não está sozinha.

    • Ofereça apoio e incentivo: Seja um ombro amigo, mas também encoraje a busca por ajuda profissional, explicando que não há vergonha nisso.

    • Evite minimizar a dor: Frases como "Isso vai passar", "Anime-se" ou "Você tem tudo para ser feliz" podem invalidar o sofrimento da pessoa. Em vez disso, foque em "Estou aqui para você" ou "Vamos encontrar ajuda juntos".



Como Procurar e Oferecer Ajuda 🙏


Para quem precisa de ajuda:


Ligue para o CVV (Centro de Valorização da Vida): Disque 188. É um serviço gratuito e confidencial de apoio emocional, disponível 24 horas por dia, por telefone, chat ou e-mail. Eles oferecem escuta qualificada e acolhimento.


Procure um profissional de saúde mental: Psiquiatras e psicólogos são fundamentais. Eles podem diagnosticar e tratar transtornos mentais, oferecendo estratégias de enfrentamento, terapia (como Terapia Cognitivo-Comportamental - CBT ou Dialectical Behavior Therapy - DBT) e tratamento medicamentoso adequado, se necessário. Não hesite em buscar uma segunda opinião se não se sentir confortável com o primeiro profissional.


Conecte-se a grupos de apoio: Compartilhar experiências com pessoas que passam por situações semelhantes pode ser muito confortador e fortalecedor, criando um senso de comunidade e pertencimento.


Converse com alguém de confiança: Um amigo, familiar, líder religioso, professor ou conselheiro. O importante é não guardar a dor para si.


Crie um "Safety Plan": Com a ajuda de um profissional, desenvolva um plano de segurança que inclua contatos de emergência, estratégias de enfrentamento para momentos de crise e locais seguros.



Para quem quer oferecer ajuda:


Escute sem julgar: Ofereça um ombro amigo, valide os sentimentos da pessoa e mostre que ela não está sozinha. Evite dar conselhos não solicitados ou tentar "resolver" o problema. O foco é na escuta e no acolhimento.


Seja empático: Tente se colocar no lugar do outro e entender a profundidade da dor que ela está sentindo, mesmo que você não consiga compreendê-la completamente.


Ofereça ajuda prática: Pergunte como você pode ajudar. Pode ser acompanhando a pessoa a uma consulta, ajudando-a a pesquisar profissionais ou recursos, ou simplesmente fazendo companhia.


Estimule a busca por ajuda profissional: Encoraje a pessoa a procurar um psiquiatra ou psicólogo, explicando que não há vergonha nisso e que buscar ajuda é um sinal de força e autocuidado.


Mantenha contato: Continue a demonstrar apoio e cuidado, mesmo após a crise inicial. A recuperação é um processo contínuo.


Cuide de si mesmo: Ajudar alguém em sofrimento pode ser desgastante. Certifique-se de ter seu próprio sistema de apoio e, se necessário, procure ajuda profissional para si.


"Conversar Pode Mudar Vidas": O Tema de 2025 em Ação 💬


O tema deste ano nos lembra que a simplicidade e a profundidade de uma conversa podem ser a fagulha que reacende a esperança em alguém que se sente na escuridão. É o momento de desarmar preconceitos, quebrar o silêncio e abrir nossos corações.


Exemplo: Maria, uma supervisora, percebeu que Ana, uma de suas funcionárias, vinha entregando relatórios atrasados, parecia desanimada e se isolava dos colegas. Em vez de apenas cobrar por desempenho, Maria a chamou para uma conversa particular, começando com: "Ana, percebi que você não está no seu ritmo habitual ultimamente e parece um pouco distante. Eu me importo com você e com seu bem-estar. Tem algo que queira compartilhar? Saiba que estou aqui para escutar, sem julgamentos." Ana, surpresa com a delicadeza e a preocupação genuína de Maria, revelou que estava passando por um divórcio doloroso e que a pressão a estava esgotando. Maria, então, ofereceu flexibilidade nos horários, indicou o serviço de apoio psicológico da empresa (EAP) e reforçou que Ana era uma colaboradora valorizada. Essa conversa não só evitou um afastamento de Ana por Burnout, mas fortaleceu a confiança e o vínculo na equipe, mostrando que a empatia e a proatividade no ambiente de trabalho são pilares fundamentais da prevenção e do cuidado.


Seja a Diferença Que Alguém Precisa 💛


Setembro Amarelo não é apenas para falar sobre suicídio, mas para falar sobre vida, sobre esperança, sobre conexão humana. É para lembrar que cada vida importa e que, juntos, podemos construir uma rede de apoio sólida e acolhedora, onde ninguém se sinta sozinho em sua dor.

Que possamos levar essa mensagem adiante, não apenas neste mês, mas todos os dias do ano. Seja a pessoa que escuta com o coração, que se importa de verdade, que estende a mão e oferece um porto seguro. Conversar pode, de fato, mudar vidas. E a sua participação nisso é inestimável.

Com carinho e compromisso com a vida,



Dra. Letícia Pires Psiquiatra e Defensora da Saúde Mental

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